terça-feira, 15 de junho de 2010

Ser Olívia

"Quem gosta de osso é cachorro".

Nós magrinhas, mulheres injustiçadas pelos mistérios do corpo humano (ou de Deus), mas injustiçadas sobretudo pelas pessoas: somos as "anoréxicas". As mulheres que seguem o padrão da mídia. As vulneráveis, desequilibradas, de mente fraca. "Você precisa comer!", mas quem há de pensar que não-comer não é uma escolha? Ou ainda: que comemos, sim! Alguém por um acaso fala sobre nós, magrinhas?

Magreza é sinônimo de meninas "eu quero ser magra". A magreza nunca é falada como é, em sua verdadeira (ou falta de) forma, apenas em um objetivo para se alcançar. A magreza, a magreza, a magreza. Falam na dona Magreza em dois extremos: o primeiro, quando modelos tem anorexia. "Oh, dona Magreza! Que cruel!". O segundo, quando mulheres não-magras querem a dona Magreza como amiguinha - ou nem sempre, há quem se rebele contra a dona Magreza. "Dona Magreza, não precisamos de você! Somos melhores!". E isso é coisa que se faz com a pobrezinha?

Mas tudo acontece por fases. No começo, todas querem a dona Magreza. Pelos padrões de beleza? Quem sabe. A questão é que nos confins da mente dessas mulheres, algo está errado e precisa ser mudado urgentemente. Dona Magreza é desejadíssima. E após a cobiça, aqueles dois extremos (que querem o mesmo, sempre!) começam a enfrentar o destino: temos quem consiga dona Magreza, e de maneira doentia. Como tudo o que é obtido em excesso, dona Magreza trás consequências desastrosas (porém, dona Magreza não tem mais culpa, ela foi apenas o alvo de um desejo doentio). O segundo extremo, das mulheres gordinhas, é muito amplo. Após desejar a dona Magreza, a parte que consegue (com moderação) está devidamente satisfeita. A parte que não consegue, chega à duas ruas que vão para caminhos distintos: a da direita continua sem a dona Magreza e se amaldiçoando por isso - aprende a viver sem ela, afinal. A da esquerda também aprende, porém de forma mais radical e agressiva: seremos feministas e contra a dona magreza! Não seremos vítimas da beleza! Somos assim e pronto, há quem goste de nós!

É de deixar qualquer magrinha embasbacada toda essa história. A campanha anti-DonaMagreza é cruel: criticam sem piedade e caem em contradição. Acabam deixando as outras mulheres inferiores! Mais ainda do que nós magrinhas nos sentimos nesse país de mulheres tão belas e saudáveis; no país onde mulher é bunda grande e seios fartos. Nós magrinhas, quando usamos decotes, arrancamos comentários secretos com um tom que beira a pena: "Ela quase não tem peito, você viu?". Umas usam decotes mesmo assim, exibem os ossos (e sinceramente, a clavícula é uma região lindíssima, entra no top 5 partes do corpo feminino) com vontade. Outras tem vergonha. "Não vou mostrar o que eu não tenho". Nós magrinhas não temos curvas nas pernas, machucamos os nossos namorados com o osso ilíaco do quadril, temos braços finos que são os primeiros a nos denunciar, não temos covinhas nas costas, nenhum desenho para se orgulhar, apenas ossos expostos. Nós magrinhas fomos chamadas quando crianças de Olívia Palito, vassoura, espanador de Lua, tábua de passar roupa, etc. Nós magrinhas somos frágeis e delicadas por fora, mas ainda somos tão mulheres quanto as outras, por mais carne que nos falte. Nós magrinhas encontramos ali e acolá um admirador da dona Magreza, que chega a nos espantar: alguém! Em suma os homens dizem "É sem graça". Falam tanto do tal padrão de beleza onde mulher tem que ser magra, mas padrão de mulher venerada pelos homens, onde está o saquinho de ossos? Homens são açougueiros, querem carne e mais carne. E como o mundo é engraçado, uns com tanto, outros com tão pouco... Quem não é magrinha não sabe, mas nós também nos sentimos pequenas e feias. Ninguém escolheu o corpo que tem, afinal, só nos sobra o "Por quê?" latente, implacável. Por mais que se supere as imperfeições, aceite como as coisas são, por mais que não se tenha nunca a inveja ruim, a pergunta estará lá, enquanto nós magrinhas nos despirmos diante do espelho: é só aprender a virar de costas, a não ver.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Para pular








...Alguém explica?

quinta-feira, 10 de junho de 2010

6:20

"Como é ruim quando alguém lhe diz a verdade, ainda mais quando se trata de uma dessas verdades que se tem evitado pronunciar até mesmo no solilóquios matinais, quando a gente recém se põe de pé e murmura amargas tolices, profundamente antipáticas, carregadas de rancor contra si mesmo, as quais é preciso dissipar antes de acordar por completo e vestir a máscara que, no resto do dia, verão os outros e verá os outros."
A Trégua, Mario Benedetti.


P.S.: coloco minha máscara todos os dias da semana às 6:20.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

segunda-feira, 29 de março de 2010

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Em alguma contra-capa

(GO, Nick Farewell)

"Encontro a Ginger na porta do cinema. Acho que estou condicionado a sorrir toda vez que a vejo. A minha boca reage instantaneamente. (...) A garota dos meus sonhos existe e está vindo ao meu encontro. Se eu fosse cineasta, colocaria a câmera bem onde eu estou. Assim, eu a veria, em câmera subjetiva, descer a rua apressada entre passos alternados, a sua bolsa balançando, sua mão se agitando, harmoniosamente, e o exato momento em que leva a mão para jogar o cabelo por trás da orelha. Em seguida, ela me enxergaria, sorriria e apertaria mais o passo. Só cortaria quando ela entrase em close, exatos dois segundos antes de me beijar.
- Demorei?
- Posso pedir uma coisa?
- O quê?
- Você porederia ir até a esquina e descer a rua de novo?
- Por quê?
- Porque eu quero resgistrar isso.
- Onde? Como?
- Na minha memória.
Ela sorri. É um festival de sorrisos.
- Ok. Vou lá, então.
- Não se esqueça que você está descendo pela primeira vez a rua - eu quase grito.
- Entendi - ela responde de costas.
Gui chega até a esquina. Faz pose e desce a rua como se estivesse atuando. Eu ligo a minha câmera imaginária. Registro todos os movimentos. Penso como vou me lembrar disso até o fim dos meus dias. Pensando como a lembrança ainda é a melhor das máquinas fotográficas. Agora, cinematograficamente, eu gravo frame por frame na minha memória, expondo a luz e meus sentimentos, e projeto na minha retina as imagens que eu voltarei sempre a enxergar toda vez que sentir um dia nublado entre a ausência e o encontro da pessoa que, possivelmente, vai me causar mais falta e mais completude, ao mesmo tempo, na minha vida."

OBS.: Comecei a ler este livro, e achei que esse trecho da contra-capa lhe agradaria. Achei tão... (suspiro)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

#01





Paris, je t'aime

Você entende, eu sei.